sábado, 16 de março de 2019

O que acontece quando morremos

Por Adolfo Suárez: 
Resultado de imagem para vela a se apagar"O que é a morte? Essa é uma indagação que todos fazem, mas nem todos sabem responder satisfatoriamente. O Novo Dicionário Aurélio registra o seguinte no vocábulo “morte”: “1. Ato de morrer; o fim da vida animal ou vegetal. 2. Termo, fim. 3. Destruição, ruína.” A definição do dicionário é clara, mas as crenças de muitas religiões e filosofias são diversas. Em seu livro Imortalidade ou Ressurreição?, o teólogo Samuele Bacchiocchi afirma que, historicamente, há dois pontos de vista principais e antagônicos sobre a natureza humana: o “dualismo clássico” e o “holismo bíblico”.
A visão dualista afirma que a natureza humana é composta por um corpo material e mortal mais uma alma imortal e espiritual. A alma imortal sobrevive à morte do corpo e se reúne a ele na ressurreição. Essa concepção dualista teve um impacto imenso no pensamento cristão, afetando a visão da vida humana, do mundo presente, da redenção e do mundo por vir.
Por outro lado, pesquisadores e eruditos bíblicos têm examinado os textos da Bíblia e concluído que a natureza humana não é dualista, e sim claramente holística. Ou seja, não há contraste entre o corpo e a “alma”. Aliás, a alma não é algo imaterial; ao contrário, designa a vitalidade ou princípio da vida humana. Não existe uma “alma” que sai do corpo quando a pessoa morre. O que acontece é a cessação da vida, quando o pó volta à terra, de onde veio, e o espírito volta a Deus, que o deu (Ec 12:7).
Segundo Niels-Erik Andreasen, em seu artigo no Tratado de Teologia, o estudo das palavras referentes à morte no Antigo Testamento aponta para uma compreensão simples e única: “o completo término da vida, de suas expressões e funções”. Isso pode ser verificado neste conhecido texto bíblico: “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento. Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre não têm eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol” (Ec 9:5, 6).
Analisemos brevemente essa ­fórmula. O pó da terra indica que a substância material da qual foi feita a humanidade (em hebraico ’adam) é a própria terra (em hebraico ’damah). Nesse sentido, a humanidade é caracterizada como sendo mortal e terrena, pois, como se originou do pó, não possui nenhuma vida inerente, nenhuma vida própria e nenhuma vida imortal.
Fica evidente no relato de Gênesis 2:7 que o corpo formado a partir do pó da terra não continha materiais ou componentes divinos, que lhe permitissem uma vida independente. Uma vez formado o boneco Adão do pó da terra, Deus lhe acrescentou a respiração, o que lhe deu vida/ânimo, às vezes chamada de “espírito”.
Esse fôlego de vida, como ressalta Andreasen no Tratado de Teologia, não era uma substância separada colocada no boneco sem vida. Foi o poder divino da vida que transformou o pó em um ser vivo. Ou seja, o sopro de vida “não representa uma segunda entidade, acrescentada ao corpo como se fosse um ingrediente, capaz de existir separadamente”. Esse sopro foi “um poder energizante procedente de Deus, que transformou o corpo terreno em um ser vivo”. 

O Homem é Mortal ou Imortal?

Imagem relacionadaNa sequência sobre a nossa condição na morte venho partilhar o meu pensamento expresso no texto de Adolfo Suárez: 
"Por trás da crença na reencarnação está a ideia da imortalidade: porque o ser humano não morre, reencarna em outra vida. Podem os cristãos, que acreditam na Bíblia, dar crédito ao ensinamento da imortalidade humana? Deixemos a própria Escritura responder a essa pergunta: o ser humano é como a flor, que nasce e logo murcha; é uma sombra passageira (Jó 14:2); ele não sabe o que lhe acontecerá amanhã, pois é como a neblina que aparece e logo se dissipa (Tg 4:14); é como uma brisa passageira (Sl 78:39).
Na obra The Seventh-day Adventist Encyclopedia, editada por Don Neufeld, é-nos dito que “as Escrituras em parte alguma descrevem a imortalidade como uma qualidade ou estado que o homem ou mulher – ou sua ‘alma’ ou ‘espírito’ – possui inerentemente. Os termos normalmente traduzidos como ‘alma’ e ‘espírito’ […] ocorrem mais de 1.600 vezes na Bíblia, mas nunca em associação com as palavras ‘imortal’ ou ‘imortalidade’”.
Por outro lado, Deus é apresentado como eterno e imortal: “Ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos” (1Tm 1:17). “O único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A Ele honra e poder eterno” (1Tm 6:16).
Assim, na perspectiva bíblica, os seres humanos são limitados, mortais e transitórios, enquanto Deus é infinito, imortal e eterno. Atribuir imortalidade ao ser humano equivale a dizer que ele é divino, e isso contraria os ensinamentos da Escritura.
O apóstolo Paulo afirma que tudo foi criado por Deus e para Deus (Cl 1:16). É dele que toda criatura recebe o fôlego da vida; é por causa dele que “nos movemos, e existimos” (At 17:25, 28). De modo que o ser humano foi criado para viver eternamente, pois recebeu o sopro de vida de um Deus que é eterno. Não faria sentido pensar que Deus nos cria para então morrermos.
Nesse sentido, deve ficar claro que, “quando Deus criou Adão e Eva, concedeu-lhes liberdade de decisão – a capacidade de escolher”. O homem “poderia obedecer ou deixar de ­fazê-lo, e a continuação de sua existência dependeria de contínua obediência através do poder de Deus. Assim, a sua posse do dom da imortalidade era condicional” (Nisto Cremos, p. 429, 430)".

Por quê morremos?

Resultado de imagem para flor murchaHá imenso tempo gostava de publicar um artigo sobre tanatologia, o estudo da morte. O tema é de enorme relevância mas o tempo tem sido demasiado curto. Encontrei um artigo já pronto da autoria de Adolfo Suárez e passo a publicá-lo na integra. Esta é uma das partes:
 "O texto de Gênesis 2:17 é a primeira passagem bíblica que faz referência à morte, numa advertência de Deus para que Adão e Eva não comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comessem morreriam. Esse texto revela que a morte é consequência direta do pecado (ou punição, como diriam alguns), aspecto confirmado pelo ­apóstolo Paulo (Rm 5:12; 6:23) ao ligar a morte à narrativa sobre Adão.
Como resultado da desobediência, Adão recebeu logo a sentença que hoje faz parte da realidade de todos os seres humanos: “Tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3:19). E o que nós temos que ver com a transgressão de Adão e Eva? Por que nós, cidadãos do século 21, temos que morrer se não estávamos lá no Éden?
Acontece que somos descendentes deles e acabamos sendo impactados por aquilo que eles fizeram, assim como nossos descendentes serão impactados por aquilo que nós fizermos. Sendo que Adão e Eva perderam a imortalidade condicional e não podiam transmitir para nós aquilo que eles próprios não possuíam, “a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5:12)".