domingo, 27 de março de 2011

A sexualidade da pessoa idosa

Com o florescer da gerontologia começou-se a questionar a sexualidade da pessoa idosa de uma forma mais responsável e respeitável. Entretanto há ainda um grande percurso a ser desbravado. O preconceito acerca da sexualidade dos mais velhos inicia-se na própria família. Os jovens olham para os velhos como seres assexuados.

Muitos autores de renome classificam a velhice como a fase da vida onde ocorre as “perdas”ou a “retrogénese”. Embora estas abordagens tenham os seus devidos valores, elas vêem a velhice de uma forma menos optimista. O processo do envelhecimento e a fase da velhice, especialmente, deve ser encarado numa óptica positiva de desenvolvimento e não como uma mera perda. Isto tem sido uma vitória da gerontologia de mãos dadas com a psicologia positiva. Assim como a infância, a juventude e a adultícia, a velhice também tem as suas perdas e ganhos.

Leite (2010) apresenta a definição de sexualidade proposta pela OMS como “energia que nos leva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade, que se integra na forma como nos sentimos, movemos, tocamos ou somos tocados”.  Nestes parâmetros os mais velhos podem usufruir de um leque muito mais alargado no que se refere à sexualidade. Na idade mais avançada não há temores com a ejaculação ou orgasmo precoce e a concepção indesejável. O acto sexual no grupo etário mais avançado pode ser visto como momento dedicado à atenção, ao carinho, ao amor, ao toque e ao prazer de estar junto com a pessoa amada.

Por outro deve-se ter em conta as pessoas que não se enquadraram ainda no seu novo paradigma. Quando abordou o comportamento sexual abusivo e criminoso de alguns idosos condenados a prisão por violar outros idosos Hermógenes (2002) classificou estes indivíduos como “homo eróticus”. Segundo este autor o “homo eróticus” é “ignorante e egoísta, vencido pela compulsão sexual, faz a sua própria desgraça e a de outras pessoas”.

Para Jung a velhice deve ser abordada como oportunidade que o indivíduo tem de abandonar o material e passageiro a abraçar o transcendente, actuando não com o pensamento sobre o que pode ganhar mas sua atenção especial deve ser o que pode fazer para dar e ser útil. Neste ponto de vista a sexualidade da pessoa idosa pode ser encarada como um dom sublime.        

terça-feira, 22 de março de 2011

A medicina do futuro... e do presente

Pelo Dr. Samuel Ribeiro Director da Revista Saúde e Lar


"A medicina de amanhã é a prevenção”, de acordo com o provérbio que diz: “um grama de prevenção é melhor do que uma tonelada de cura”. Estas palavras escritas, há alguns anos, pelo antigo director geral da OMS, Dr. Hiroshi Nakajima, serão talvez o melhor dos alertas quando iniciamos a tão desejada e temida, por muitos, escalada de um novo tempo. Ao fim de quase sessenta anos de publicação é também a confirmação da justeza da posição da Saúde e Lar desde a primeira hora.
As modernas descobertas da medicina levaram muitos a pensar que os maiores problemas de saúde da humidade estariam resolvidos para sempre. Mas, bem pelo contrário, eles não param de aumentar. Até recentemente a humanidade dividia-se em: países ricos que já tinham vencido as doenças transmissíveis e se preparavam para derrotar as não transmissíveis como o cancro, as doenças cardiovasculares e outras próprias das sociedades desenvolvidas, e países em desenvolvimento onde as doenças endémicas transmissíveis, a malária e a pobreza faziam e fazem as suas razias.
Hoje, no século XXI, as coisas mudaram. É verdade que muitos países mudaram. É verdade que muitos países em desenvolvimento têm feito progressos no combate às doenças infecciosas e à malnutrição. Mas a urbanização e industrialização rápida desses países, a par da adopção de estilos de vida modernos mas errados, têm vindo a fazer aumentar a incidência das doenças das doenças não transmissíveis. Assim, novos problemas têm aparecido antes que os antigos estejam resolvidos. Um exemplo típico, entre nós, é o progressivo abandono, sobretudo pela juventude, da nossa alimentação tradicional tipo mediterrânico, por uma alimentação desequilibrada e com excesso de carne e de gorduras. As consequências no aumento das doenças cardiovasculares e do cancro já se estão a começar a sentir.   
O progresso socioeconómico tem melhorado as condições de vida de melhores de pessoas. Mas ao mesmo tempo a adopção de estilos de vida desaconselháveis (alimentação errada, stress, tabaco e falta de exercício) por muitas dessas pessoas tem-lhes trazido um risco acrescido de mortalidade em muitas doenças. A ciência mostra claramente que a prevenção das mais importantes doenças não transmissíveis (cancro, doenças cardiovasculares, diabetes, osteoporose) só é possível se se adoptarem estilos de vida saudável. Essas doenças têm grande parte das suas raízes em factores que os seres humanos criam e que só eles podem controlar.
Um dos mais importantes factores da saúde é a alimentação. Alguém disse que uma alimentação correcta representa 80% da saúde. Há evidências cada vez maiores de que uma dieta sem utilização de alimentos ou gorduras animais é um factor fundamental para se poder ter uma vida mais longa e mais saudável.
Termino com uma frase do professor Fernando Pádua, uma personalidade médica que é uma referência quando se fala em prevenção: “a saúde pode não ser tudo, mas sem ela o resto é quase nada”. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Estabelecer Sintonia


O bom desenvolvimento de relações interpessoais é um dos elementos chaves para o sucesso de uma vida profissional, pessoal e comunitária. No âmbito da gerontologia social é imperativo o desenvolvimento da sintonia com os idosos e cuidadores com os quais iremos interagir. É somente através da cumplicidade e amabilidade que somos capazes de desenvolver relações. 

Todos nós já tivemos a oportunidade de observas filhos parecidos com os mais não somente fisicamente mas na forma de andar, amigos que de uma certa maneira vestem-se de uma forma semelhante, casais que ao longo dos anos tornam-se muito parecidos e cães e donos que muito se assemelham. Vemos também uma grande cumplicidade na natureza à nossa volta. Estes são alguns exemplos de sintonia entre tantos que podemos mencionar. 

Boothman (2008) sugere que "a sintonia é o estabelecimento de um território comum, de uma zona de conforto na qual duas ou mais pessoas se podem unir mentalmente. Quando existe sintonia, cada um de nós traz algo à interacção - atenção, calor, sentido de humor, simpatia, possivelmente duas ou três excelentes anedotas. A sintonia é o lubrificante que permite que as interacções sociais fluam com suavidade". 

O mesmo autor admite, através dos seus estudos, que a recompensa é de grandeza tal que quebra todos os  "gelos" de um relacionamento casual.  "O prémio, quando se atinge a sintonia, é a aceitação positiva da outra pessoa. Esta resposta não se traduzirá em tantas palavras, mas assinalará algo como isto: "eu sei que ainda agora te conheci, mas gosto de ti, por isso vou-te confiar a minha atenção." Por vezes, a sintonia acontece simplesmente por si própria, como que por acaso; outras vezes, temos que lhe dar uma mãozinha. Se acertarmos, a comunicação pode ter início. Se falarmos, vamos ter que batalhar pela atenção da outra pessoa".

Em seu estudo sobre a sintonia, Boothman (2008) postula a existência de três formas de sintonia: A "sintonia natural" que passa pela simpatia ou carisma que desenvolvemos naturalmente com as pessoas com as quais interagimos em nossa vida diária, a "sintonia ocasional" que desenvolvemos em ocasiões ou situações  específicas como eventos, viagens entre outros. E finalmente a "sintonia planeada". Esta é desenvolvida quando há um interesse mútuo ou individual. Neste caso o agente interessado necessita derrubar preconceitos e outras barreiras sociais para "reduzir as distâncias e as diferenças" conforme salienta Boothman (2008). 

É somente através destes princípios que poderemos combater a exclusão social e promover a interacção do indivíduo na sociedade. Não obstante o primeiro passo deve sempre partir de nós próprios. "A chave de estabelecer sintonia com estranhos é aprender de que forma nos podemos tornar como eles". 




segunda-feira, 14 de março de 2011

A arte de envelhecer

Envelhecer é uma característica inerente do ser humano. Ermida (1999) define o envelhecimento como “...processo de diminuição orgânica e funcional, não decorrente de acidente ou doença e que acontece inevitavelmente com o passar do tempo”.  Não obstante muitos estudiosos como Bize e Vallier (1985) e Marujo (2009) postulam que o processo do envelhecimento ocorre a partir da fecundação. 

Para Stanhope e Lancaster (1999)   “…O envelhecimento é um processo normal que não é bem compreendido e, ao longo dos anos, têm surgido mitos a ele associados. Alguns dos mitos comuns implicam a percepção de que todos os idosos são débeis, senis, surdos, que não conseguem adaptar-se à mudança…”

A nossa sociedade ocidental de cultura consumista crê-se que o que é velho deve estar fora de uso ou ultrapassado. Contudo a história regista grandes vultos do passado que tiveram maior capacidade criativa na velhice que na idade jovem. Entre estes destacamos:


Concluo com o poema Envelhecer de Saul Dias, in “Essência”

É bom envelhecer!

Sentir cair o tempo,
magro fio de areia,
numa ampulheta inexistente!

Passam casais jovens
abraçados!...

As árvores
balançam novos ramos!... 
 E o fio de areia a cair… a cair…