No livro “A resiliência ultrapassar os traumatismos” Marie Anaut designa a resiliência como “a arte de se adaptar às situações adversas”. Para levar o leitor a um conceito mais profundo sobre este tema, a autora faz três abordagens distintas sobre a origem do conceito da resiliência.
No mundo da Física o Dictionnaire Robert define resiliência como “a resistência do material a choques elevados e a capacidade de uma estrutura em absorver a energia cinética de meio sem se modificar”. Enquanto no mundo da Metalurgia a resiliência é designada pela “qualidade e elasticidade dos materiais em voltar ao seu estado inicial depois de passar por uma pressão contínua de uma série de choques. E no mundo da Informática a resiliência é abordada como a capacidade de um sistema operativo perante uma falha, continuar a ser funcional.
A autora é enfática ao afirmar que a resiliência poder ser algo que esteja em nós e precisa ser activado e cita Massiaux e colaboradores que avaliam este processo como “ um potencial presente em cada pessoa”. Anaut também faz menção das observações de Garmezy que observou famílias desfavorecidas. Este trabalho levou-o a concluir que a resiliência pode apresentar três factores de protecção que são enumerados como: Factores individuais, familiares e factores de suporte.
Os “factores individuais” são tudo aquilo que faz parte da personalidade única e exclusiva do indivíduo. Faz parte da sua individualidade, sua forma natural de acção e reacção à determinada circunstância. Por outro lado os “factores familiares” representam a forma como o núcleo familiar responde ao indivíduo numa fase de crise. Neste aspecto a unidade da família, o interesse, o calor humano, a cumplicidade, a observação e o envolvimento dos pais, do cônjuge ou dos irmãos são decisivos na motivação e na acção resiliente, enquanto os “factores de suporte” dizem respeito ao meio social mais alargado em que o indivíduo está inserido. Pode ser representado pelos colegas de estudo, professores, grupos de convívio, de actividades religiosas ou lúdicas, colegas de trabalho, entre outros.
Marie Anout apoia enfaticamente Rutter que por sua vez também apoiou as observações de Garmezy ao afirmar que “estes três pólos de protecção favorecem a resiliência porque melhoram a auto-estima e a auto-eficácia, abrindo novas possibilidades para o sujeito”. É digno de nota que é necessário haver uma harmonia entre o indivíduo e os factores de suporte a fim de que a acção positiva possa exercer a sua função benéfica. Em caso contrário os tão chamados “factores de protecção” podem tornar-se “factores de risco”.
A capacidade de adaptação, a capacidade de controlo de determinada situação, O bem-estar e a satisfação com a vida, os bons tratos e a capacidade de enfrentar um problema têm a sua contribuição especial no desenvolvimento de uma personalidade resiliente. Daí provem a necessidade de valorizar, cuidar e respeitar os que estão à nossa volta, contribuindo assim para a construção de uma pessoa resiliente.
Anaut informa que só mais recentemente verificou-se a necessidade de estudar a resiliência em adultos e idosos. O interesse dos pesquisadores tem voltado mais recentemente para o campo dos idosos de uma forma especial. Isto é evidente quando é assim mencionado: “A população idosa tornou-se nomeadamente um dos grupos de investigação mais instrutivos para completar o estudo da resiliência”.
Um dos grande motivos em dar um enfoque especial aos idosos é para estudar a elasticidade da resiliência ao logo da vida. Os pesquisadores desejam constatar se a resiliência no idoso terá novos parâmetros e paradigmas, se a resiliência no idoso é fruto de um desenvolvimento ao longo da vida ou se pode ser accionada na velhice.
A vida dos gerontes é um vasto campo para estudar a resiliência, uma vez que é na velhice que os traumas ou situações que podem ser traumatizantes são mais comuns. É na idade mais avançada que acumulam-se os problemas como, a baixa reforma salarial, a perda do poder físico, social e cognitivo, perda do cônjuge, aumento do número de falecimento de familiares e amigos e a grande vulnerabilidade às doenças. Esta realidade é observada de uma forma especial quando a autora menciona que “o envelhecimento poderia ser considerado como um contexto de risco”.
Entretanto é evidente o facto que cada indivíduo reage de uma forma diferente a uma mesma situação. O mesmo ocorre com os idosos. Há idosos que sabem lidar com as perdas e estes têm um envelhecimento bem sucedido. A autora observa esta realidade ao informar que “alguns [idosos] parecem desenvolver um comportamento que facilmente podemos classificar como resiliente. O idoso poderá recorrer à sua bagagem psicológica para desenvolver ou fortalecer a sua resiliência. Este conceito é abordado a obra de Aguerre que segundo a autora passa a ideia que “ a definição muito generalista, que faz referência à resiliência das crianças como a capacidade de ultrapassar a adversidade graças aos seus recursos psicológico, pode aplicar-se igualmente aos idosos que conseguem viver bem a sua velhice apesar das dificuldades ligadas à idade com que deparam”.
Assim pode-se concluir que a resiliência é mais que a capacidade para superar os desafios que encontramos ao longo da vida. É a “arte”, como diz Marie Anaut, que temos para ultrapassar as situações traumatizantes e mesmo assim sair vencedores e com uma nova bagagem de experiência pois viver requer acção.
Uma das formas de promover a resiliêcia nos idosos de amanhã será sem dúvida demonstrar amor e respeito para com os jovens de hoje. Assim estaremos ajudando a construir personalidades resilientes e uma sociedade mais disposta a erguer-se e a reconstruir-se.
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