No livro " A Arte de Envelhecer" Claude Olievenstein postula que “há velhos e velhos, de vários níveis e de várias idades”. Este facto deve ser seriamente tomado em consideração por todos os que lidam com idosos, quer familiares, cuidadores ou outros profissionais. Assim como as crianças são indivíduos únicos e necessitam de uma aprendizagem diferenciada para um melhor desenvolvimento cognitivo, muito mais deve esta realidade ser vivenciada nos idosos uma vez que têm um longo percurso no que tange à bagagem de cultura e de desenvolvimento do carácter pela experiência que a vida lhes proporcionou. Desta forma entende-se que o idoso, como um indivíduo, é digno de um tratamento personalizado pois trata-se de um ser único e singular.
Não obstante, embora esta singularidade seja incontestável, pela nossa prática quotidiana podemos observar a existência de alguns hábitos comuns entre aqueles que já entraram na fase da retrogénese. Em todas as etapas da vida o indivíduo segue um padrão de referência. As crianças comparam o seu crescimento entre si, os pré-adolescentes comparam o desenvolvimento do seu corpo, os jovens comparam a quantidade de parceiros sexuais ou namoros e os mais adultos comparam a sua capacidade de procriar, a sua casa e o carro. Segundo esta linha de pensamento, o fenómeno da comparação é inerente ao ser humano. Se o mesmo não ocorresse entre os idosos poder-se-ia arriscar dizer que nesta etapa da vida o indivíduo começa a perder a sua humanização.
Os idosos de uma forma muito peculiar exercem a sua capacidade de observação e comparação com grande mestria. Às vezes este acto é feito de uma forma inocente, mas também pode ser acutilante, mesquinho e até mesmo ofensivo. Quantas vezes não se tem relatado discussões e insultos onde haja aglomerações de idosos e tudo isso tendo como causa inicial uma comparação que gerou inveja!
Este tipo de sentimento pode causar danos muito mais severos para um envelhecimento saudável do que se possa imaginar. Segundo Barrows (2010, pag. 35) se o sentimento da inveja não for definitivamente eliminado da personalidade do indivíduo, ela poderá reaparecer quem qualquer estágio da vida, inclusive na velhice, e “voltará a emergir em período de stress e terá de ser objecto de uma nova elaboração para que os sentimentos criativos e positivos possam vir a prevalecer”.
De acordo com Melgosa (2010, pag. 9) “os estados emocionais negativos, como ódio, preocupação, receio, raiva e ciúmes, provocam reacções fisiológicas imediatas.” Estas reacções desencadeiam mal-estar que por sua vez tornam-se em perturbações cardíacas, digestivas e psicológicas. Assim conclui-se que o acto de compararmos com os outros só é prejudicial quando se torna uma obcessão ou quando isso nos leva a afectar de tal ponto que a nossa auto-estima seja reduzida.