sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O futuro da Medicina Transfusional

Uma reflexão sobre o artigo de W.G.Aken "O Futuro da Medicina Transfusional" editado na Revista AB0 nº 40. Lisboa.Edição de Out/Dez 2009

Com o aumento da esperança de vida surgem novos desafios para a sociedade. Um dos factores mais perturbadores para Aken é que o idoso “não sofre de uma doença única mas da presença simultânea de várias incapacidades”. A este fenómeno o autor chama de “multimorbilidade”. O outro fenómeno que surge como consequência da longevidade é apresentado como: “fragilidade”. Esta realidade é derivada da vulnerabilidade que a pessoa idosa tem em ser mais susceptível a doenças, contaminações e complicações a nível do quadro clínico. Por este motivo torna-se obrigatoriamente necessário evitar qualquer tipo de contaminação ou efeitos secundários resultantes de uma transfusão de sangue.

O aumento da população idosa, segundo Aken, irá trazer complicações a nível de material sanguíneo. São enumerados alguns desafios para os profissionais da saúde. Um deles está relacionado com o número de dadores que tem vindo a reduzir devido ao envelhecimento e estes lugares não estão a ser preenchidos por pessoas mais jovens.

Aken postula que o número de dadores com idade entre os 50 anos aumentou tanto no grupo feminino como masculino. Assim é cientificamente provado que o perfil dos dadores de sangue está enquadrado numa população que está a envelhecer. Desta forma reduz-se o número de sangue colectado. Em contrapartida a população envelhecida necessita grandemente de material plasmático. 

Uma das soluções propostas é aumentar a idade dos dadores de repetição e pessoas que doam pela primeira vez, desde que tenham saúde para tal. Mesmo assim o autor coloca como indispensável motivar o recrutamento da população mais jovem para “cobrir a perda dos dadores mais velhos” a fim de suprir a necessidade de sangue nos bancos hospitalares.

Segundo o autor o maior número de receptores de sangue e derivados estão relacionados com indivíduos com mais de 60 anos. Estas pessoas “beneficiam com tratamento de longa duração” em “elevadas doses”. Uma vez que a tecnologia tem avançado juntamente com a esperança de vida, calcula-se que em breve poderá serão efectuadas cirurgias mais complexas e tratamentos quimioterápicos “mais agressivos” em pacientes mais idosos o que consequentemente aumenta o número de gerontes a beneficiar dos produtos sanguíneos e plasmáticos.

A segurança no que se refere ao cuidado com o sangue sofreu grandes alterações nos últimos anos. Quanto a esta segurança, segundo Aken, as precauções passavam pelo processo da “educação do dador, o rastreio, a testagem para agentes específicos e o descarte de componentes do inventário” caso aparecesse alguma suspeita que o dador viesse a ser portador de uma doença.

Nos dias actuais Aken garante que a possibilidade de ser contaminado por doenças tais como hepatite e HIV por uma transfusão de sangue é muito remota, devido ao avanço das tecnologias. Não obstante é informando que a globalização e as “alterações climáticas” o risco de “novos agentes transmissíveis” constituem o maior problema no que tange à segurança de sangue.

No que se refere à protecção e preservação do sangue armazenado, a tecnologia tem dado o seu contributo para permitir que o sangue esteja em boas condições para ser usado. Cada vez mais a tecnologia avança e permite mais garantias de saúde nesta área.

É também evidenciado o perigo das reacções derivadas das transfusões de sangue num momento imediato ou posterior à recepção do sangue no corpo humano, bem como lesão pulmonar aguda causada pela transfusão. Para Aken, a melhor forma de evitar problemas de ordem não infecciosa nas transfusões é promover estudos para construir uma base de dados genética para garantir transfusões compatíveis aos receptores, evitando assim os “riscos de aloimunização”, ou seja rejeição.

Como forma de trazer resposta aos novos desafios da medicina, Aken indica que as mais diversas terapias celulares podem dar um grande contributo na evolução do desenvolvimento da medicina no campo das terapias transfusionais. Entre outros exemplos ele destaca a transplantação de células estaminais, uso de 
células dentríticas e linfócitos T para evitar a rejeição.

É enfatizado a necessidade de desenvolver todas estas tecnologias sob a transparência e de acordo com a biovigilância. Todos os serviços de sangue que dispõem de tecnologia e “infra-estrutura avançada” são convidados a participar deste avanço da ciência para o bem da humanidade.   

É focado ainda a importância de uma medicina personalizada, voltada para o doente em vez de centrada na doença. Para finalizar o autor aborda a questões no que se refere à negligência e falta de rigor nos exames de material sanguíneo que afecta metade dos países do mundo e consequentemente as doenças transmitidas devido à esta situação. É salientada a necessidade de cooperação entre diversas entidades para solucionar este problema.

Entendo que a solução segura é a manufacturação de produtos sanguíneo a partir de terapias celulares para suprir a grande demanda. Para além de solucionar o problema de compatibilidade, esta tecnologia irá também solucionar o desafio da contaminação quer por vírus ou bactérias quer as reacções negativas que podem ocorrer após uma transfusão de sangue.

O uso da tecnologia no que se refere ao futuro transfusional poderá ser um grande benefício para solucionar o problema de consciência de grupos religiosos minoritários que poderão ser eventualmente beneficiados com a produção de sangue artificial a partir de células estaminais. Desta forma estaremos a salvar vidas e a promover a tolerância.

Entendo que a função máximo do gerontólogo é promover um envelhecimento saudável. Aprecio o grande desenvolvimento da tecnologia para dar resposta segura, imediata e salutar a todos os gerontes que necessitam de transfusão de sangue num momento de vulnerabilidade. Não obstante compreendo que a tecnologia que engloba o avanço do processo de terapias celulares apresenta grandes custos financeiros em que nem todas as economias estão preparadas para embargar neste projecto. Enquanto a tecnologia não seja acessível a todos é necessária uma consciencialização da sociedade para promover a saúde e assegurar a vida.


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