A demência do tipo Alzheimer (DA) é um processo de declínio de funções cognitivas que se estende para desorganização do comportamento e sintomas psicóticos. Entretanto, o quadro é insidioso e, frequentemente, antecipado por comprometimento cognitivo leve, uma condição considerada, por vários autores, como pré-demência1-2.
Inicialmente, o paciente apresenta maior comprometimento da memória recente e, com a evolução do quadro clínico, ocorrem distúrbios de memória semântica, dificuldade de nomeação e de elaboração da linguagem, déficits de atenção, prejuízos nas habilidades vísuoespaciais e nas funções executivas3-4. Estes déficits cognitivos prejudicam o paciente em suas atividades de vida diária, incluindo-se a convivência familiar, bem como o desempenho social e ocupacional5-6.
A neuropatologia da DA caracteriza-se por dois mecanismos críticos que determinam a morte neuronal: 1) formação de placas amilóides externas aos neurônios a partir da clivagem da proteína precursora de amilóide pela gama-secretase e beta-secretase; 2) hiperfosforilação da proteína tau, que leva à formação de emaranhados neurofibrilares dentro dos neurônios. Estes mecanismos determinam o processo de atrofia cerebral, inicialmente em áreas mesiais do lobo temporal, como hipocampo e córtex entorrinal - áreas associadas ao processamento de memória recente - e atrofia do núcleo de Meynert, bem como dos núcleos septais, no prosencéfalo basal. Estes núcleos são responsáveis pela produção de acetilcolina, um neurotransmissor mediador da atividade cognitiva. Progressivamente, o processo neurodegenerativo acomete todo o córtex cerebral, determinando o declínio das demais funções cognitivas, além de distúrbios de comportamento7-9.
Ainda não existe um tratamento definitivo que possa curar ou reverter a deterioração do funcionamento cognitivo causada pela DA. Do ponto de vista farmacológico, o tratamento atual consiste na prescrição de anticolinesterásicos (rivastigmina, donepezil e galantamina) e de memantina (antiglutamatérgico), tanto para declínio cognitivo, quanto para distúrbios de comportamento10. Entretanto, intervenções não-farmacológicas têm apontado resultados favoráveis no manejo de pacientes com DA. Programas de estimulação cognitiva, psicoterapia de orientação para a realidade, terapia ocupacional, atividades em grupo, treinamento de cuidadores e outros procedimentos têm proporcionado impacto benéfico na atenuação do declínio cognitivo e na melhora dos distúrbios de comportamento em pacientes com DA11-13. Outra alternativa nãofarmacológica inclui a prática regular de atividade física, a qual tem propiciado benefícios aos pacientes com demência14-16.
Algumas pesquisas têm demonstrado a ação benéfica do exercício físico sobre a cognição17. Colcombe e Kraemer, em uma metanálise, concluíram que o treinamento aeróbio, em pessoas idosas, proporcionou melhora no funcionamento cognitivo, especialmente nas funções executivas18. Heyn et al. também, por meio de metanálise, destacaram vários estudos nos quais ocorreram melhora significativa nas funções cognitivas globais com a prática de exercícios físicos em indivíduos com declínio cognitivo leve ou com demência14.
Apesar da crescente evidência dos benefícios do exercício físico para a cognição, poucos estudos foram realizados com utilização da atividade física sistematizada em pacientes com DA. Também existe uma lacuna no detalhamento dos programas de exercícios físicos aplicados e as recomendações (intensidade, tipo de exercício, freqüência, duração) para a prática de atividade física sistematizada nesta população.